No contexto das características da atual fase de mundialização da economia, de internacionalização das técnicas, da produção, do consumo e das relações econômicas, políticas e financeiras, o conhecimento de cada fração do território tornou-se imprescindível (SANTOS, 1999a). Nesse sentido, a temática da expansão das fronteiras agrícolas tecnificadas em direção à Amazônia brasileira passa a ser repensada no âmbito das características singulares dessa fase, das novas formas de produzir e do confronto entre os interesses dominantes, das ações do Estado e do dinamismo do mercado (RIBEIRO, 2009). Para melhor compreensão da expansão da fronteira agrícola moderna mato-grossense no Vale do Araguaia, um caminho de análise é a categoria território usado, do geógrafo Milton Santos, e as reflexões realizadas por Ana Clara Torres Ribeiro sobre a referida categoria. Nesse caminho analítico é fundamental o estabelecimento de nexos entre ação, tempo e espaço.
Não obstante, o processo de constituição dessa fronteira agrícola tecnificada também deve ser pensado no marco de introdução dos elementos do meio técnico, científico e informacional, resultando na multiplicação e diversificação dos fixos, na intensificação e renovação dos fluxos, resultando na especialização dos lugares e na aceleração da circulação. Muda a divisão do trabalho em função da extensão do mercado. A novidade essencial são as tentativas de alisamento do espaço. Entretanto, o sucesso da tecnosfera está associado ao desenvolvimento da psicosfera, identificada e analisada por Ribeiro (1996). O que orienta a compreensão desse território é o horizonte de expectativas do presente com um olhar para o futuro, entendendo esse presente como o entrelaçamento entre continuação da tradição e a inovação.
Nessa direção, este artigo objetiva analisar, com ênfase na contribuição analítica de Ana Clara Torres Ribeiro, as particularidades dos fenômenos de expansão da fronteira agrícola tecnificada no Vale do Araguaia mato-grossense, como vêm se estabelecendo as bases políticas da integração nacional, reveladoras dos limites do modelo econômico vigente, em substituição à fase em que predominava a orientação mais espontânea das atividades econômicas, procurando destacar como a resolução gradual dos conflitos coincide com o processo de integração dessa região ao fluxo do comércio internacional, buscando apreender como vem ocorrendo sua adequação enquanto condição de reprodução das relações sociais.
O presente artigo está estruturado em três seções: a primeira aborda a contribuição de Ribeiro sobre a categoria território usado; a segunda revela a visão da autora no processo de expansão da fronteira agrícola do Vale do Araguaia mato-grossense; a terceira trata do retorno ao território.