Estudo mostra um novo olhar sobre o meio rural metropolitano
Paula Guatimosim
Ruralidades metropolitanas I – O rural como opção é o primeiro de uma série de episódios do projeto “Viver e habitar o espaço rural metropolitano do Rio de Janeiro”, realizado pela pesquisadora Ève Anne Bühler, professora do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e pelo sociólogo Valter Lúcio de Oliveira, professor do Departamento de Sociologia e Metodologia das Ciências Sociais da Universidade Federal Fluminense (UFF). O documentário (https://www.youtube.com/watch?v=ex6gxjQG7Bs), de pouco mais de 26 minutos, é fruto de pesquisa multidisciplinar, nas áreas de Geografia e Sociologia. Esse primeiro episódio aborda a perspectiva de pessoas que escolheram construir suas vidas no meio rural metropolitano do Rio de Janeiro. Mostra um viver rural conectado à cidade, principalmente devido à proximidade das propriedades rurais da capital. Inseridas na região Metropolitana, estão localizadas nos municípios de Tanguá, a 65 km do Rio, e de Cachoeiras de Macacu, a 97 km da capital.
A locução que inicia o vídeo lembra que a dinâmica da metrópole parece se impor às demais e que a grande cidade é percebida como lugar de oportunidades, conquistas (…) e interação social. Entretanto, outras lógicas se manifestam, outras formas de viver, de se estabelecer relações sociais e econômicas. Em seguida, na forma de entrevista/depoimentos, o documentário lança olhares sobre o rural metropolitano, sob a perspectiva de três famílias, revelando um “rural moderno e atrativo, e não um êxodo”. Ève diz que o objetivo do projeto foi observar as transformações do espaço rural metropolitano a partir das pressões sofridas em decorrência do crescimento urbano e do aumento do fluxo populacional e econômico motivado pela criação do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), no município de Itaboraí (leste do estado), cuja área de influência direta abrange sete municípios, entre eles Cachoeiras de Macacu e Tanguá.
De acordo com a pesquisadora, as representações sociais do campo mudaram consideravelmente nos últimos 30 anos e atraíram para as periferias das metrópoles pessoas em busca de um rural idílico. Além disso, a tendência de buscar refúgio junto à natureza foi intensificada ao longo da pandemia do novo coronavírus, que impôs o confinamento à população. Segundo Ève, esse movimento foi verificado principalmente junto à população das grandes metrópoles, com fortes consequências no mercado imobiliário rural, que vivencia uma supervalorização.
As jovens irmãs Karine e Alessandra Bellas e seus maridos Carlos Alberto da Silva Filho e Gabriel de Faria, respectivamente, escolheram viver em um sítio em Tanguá, que sempre frequentaram junto com o pai, agrônomo da Embrapa, nos fins de semana. Karine e Carlos Alberto criam cabras e comercializam o leite; e Alessandra e Gabriel produzem e vendem tomates. Os dois casais dizem-se totalmente integrados à vida rural, especialmente porque contam com o auxílio da tecnologia (TV, internet, celular) para não ficarem isolados. Além disso, contam com todas as facilidades da cidade grande para fazerem compras ou buscarem uma opção de lazer. Alessandra e Gabriel garantem que a vida rural os ajudou a “saírem das caixinhas” e desenvolverem múltiplas habilidades. “Se um cano de água estoura, não podemos depender da chegada de um especialista; precisamos consertar logo”, explicam.
Já o inglês Nicholas e a argentina Raquel Locke se dedicam, fundamentalmente, à conservação ambiental. Ele é o fundador e presidente da Reserva Ecológica do Rio Guapiaçú (Regua), cuja gestão divide com a esposa Raquel, vice-presidente da Organização Não Governamental (ONG), localizada em Cachoeiras de Macacu. Nicholas conta que a propriedade foi originalmente adquirida por seu bisavô. Filho de brasileiros, Nicholas nasceu na Inglaterra e retornou ao Brasil aos 19 anos, “nutrido com histórias de grandes naturalistas que vieram para esses cantos” e determinado a preservar e recuperar o remanescente de Mata Atlântica da fazenda. Em 1996, um gestor de uma Unidade de Conservação (UC) da Inglaterra em visita à fazenda se encantou com a variedade de aves da reserva ecológica e estimulou o casal a fundar uma ONG, que criou um fundo para captação de recursos na Inglaterra. Assim, eles começaram a promover visitações para observação de aves até que, em 2002, filantropos adquiriram mais terras no entorno da propriedade a fim de ampliar área preservada, hoje uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) de 302 hectares. De lá para cá, além de preservar a Bacia do Rio Guapiaçú, promover a pesquisa e a educação ambiental, a Regua (veja vídeo em https://vimeo.com/129346540) se dedica ao turismo ecológico, recebendo hóspedes na pousada.
O projeto conta com apoio da FAPERJ, por meio dos programas Jovem Cientista do Nosso Estado – no qual Ève foi contemplada – e Treinamento e Capacitação Técnica (TCT). A produção do vídeo, que também tem apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), foi interrompida durante a pandemia para que fossem respeitadas as recomendações de distanciamento social e, por isso, dividido em episódios. Além do primeiro, já disponível, que aborda a opção pelo viver rural, o segundo pesquisará como pessoas que têm origem no campo estão vendo as transformações no espaço e no uso da terra. O terceiro vídeo mostrará entrevistas com pessoas que enxergam o rural como um espaço de lazer e de bem-estar, e o quarto episódio focará nos efeitos do Comperj sobre o campo do seu entorno.
Ficha Técnica do documentário: Direção: Ève Anne Bühler e Valter Lucio de Oliveira; Assistente de Direção: Bárbara Marçal Barcelos; Edição: Maria Tereza Costa.
Reportagem no site da FAPERJ.