O Trabalho Invisibilizado pela Técnica: o segmento avícola da cadeia carne/grãos em Lucas do Rio Verde

RESUMO

Lucas do Rio Verde é um dos municípios que sediam a cadeia carne/grãos da BR-163, uma das principais vias de escoamento da produção de soja em Mato Grosso. A partir dos anos 2000 com a entrada da BRF no município, agricultura e indústria uniram-se fortemente em um processo produtivo, que verticalizou e diversificou a produção. Com um modelo técnico produtivo fundamentado em técnica, ciência e informação, empresas de porte foram atraídas pelas possibilidades de novas escalas de produção e proximidade de matérias-primas. Assim, o objetivo geral desta pesquisa foi analisar o trabalho formal e sua precarização no setor de abate e frigoríficos do segmento avícola da cadeia produtiva carne/grãos na busca por entendê-la no seu funcionamento no Brasil a partir do caso de Lucas do Rio Verde nos anos 2000. As mudanças no trabalho foram articuladas ao nível técnico em um contexto em que se instituíram incrementos de processos migratórios e novas relações de trabalho. Na investigação, as principais fontes de dados foram IBGE, RAIS e dados de trabalhos de campo com destaque para as entrevistas realizadas com trabalhadores da BRF. Trabalho, técnica e espaço foram conceitos essenciais para a análise em um contexto em que a avaliação dos circuitos espaciais de produção e dos círculos de cooperação assumiu fundamental importância. Para isto, embasados, sobretudo, em Milton Santos, utilizamos autores como Júlia Adão Bernardes, Ricardo Castillo, Ricardo Antunes, André Gorz, Richard Sennett e Guy Standing. As reorganizações espaciais alteraram significativamente a vida na cidade, trazendo benefícios e prejuízos aos trabalhadores migrantes advindos do Nordeste ou do Norte, que, em geral, atuam como operadores de produção da BRF, compondo a massa empregada no setor. Em seus movimentos repetitivos e rápidos, trabalham como máquinas, que precisam alcançar altos níveis de produtividade em curto tempo. Uma busca pelo lucro que, na maioria das vezes, acaba por ignorar e invisibilizar o trabalho e o trabalhador em sua humanidade. Ainda assim, estratégias de organização, resistência e luta têm sido instauradas pelo estabelecimento de contra-racionalidades capazes de garantir a sobrevivência mínima dos trabalhadores. Entretanto, em um quadro de resistência diária, as estratégias do Capital, mais rápidas e poderosas, sobrepujam-se aos trabalhadores. Os trabalhadores, na maioria das vezes, ainda perdem mais do que ganham, mas prosseguem em uma atuação quase invisível de resistência em uma complexa teia de relações, na qual vivem sentimentos opostos, que vão desde o encontro de um “eldorado” às agruras diárias do trabalho e da vida em um “não-lugar”.

Palavras-chave: Trabalho, Técnica, Cadeia produtiva, Circuitos espaciais da produção, Círculos de cooperação.

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