Formas mutantes de reprodução do capital e do uso do território no cerrado mato-grossense (2021)

No contexto de mundialização da economia, que institui uma nova divisão territorial do trabalho, a natureza é reavaliada e valorizada de acordo com as novas tecnologias. Em se tratando do cerrado, o mesmo constitui uma significativa fronteira para a ciência e a tecnologia, onde coexistem interesses diversos de ordem econômica, política e ambiental, envolvendo as escalas local, regional, nacional e planetária. Após a segunda guerra mundial, o aumento das forças produtivas institucionalizadas pelo progresso científico e técnico rompeu todas as proporções históricas, não se limitando a intervir na natureza, mas passando a produzir “outra natureza”. Entretanto, o envelhecimento do patrimônio técnico é rápido, logo substituído por outro de maior capacidade operacional em função da competitividade.

É nesse contexto de reestruturação geral do sistema capitalista e de emergência de novos padrões tecnológicos que procuramos compreender o espaço produtivo da nova fronteira do capital, apreender a nova organização da sociedade e as relações emergentes nas áreas de expansão da agricultura moderna ao longo da BR-163 mato-grossense, onde vão se instituindo processos que envolvem a abertura de novas áreas, a implantação e articulação de atividades modernas, com destaque da cadeia carne/grãos, impulsionados pela dinâmica de reprodução do capital, significando novas possibilidades de uso do território em áreas de cerrado.

Vale destacar que esse corredor de exportação compreende uma das regiões mais importantes da Amazônia Legal, seja pelo seu significado econômico, que envolve formas de inserção internacional, ou pela variedade de seus recursos naturais, enriquecida pela diversidade étnica e cultural da população. Captar o fenômeno da expansão da fronteira da agricultura moderna significa perceber a substituição de atividades tradicionais por outras mais rentáveis, a existência do pequeno produtor encurralado, do seu difícil acesso à terra, do trabalho temporário, os problemas de ordem ambiental, significa ver o território para a ação política, o que exige lê-lo como totalidade. Na fronteira há sempre destruição e construção, estando a exploração de seus recursos voltada para o processo de acumulação.

Autora
Júlia Adão Bernardes

Livro
O tamanho do Brasil: território de quem?

Organizadores
Samira Peduti Kahil (et all)

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