Na atual fase da economia capitalista, uma nova ordem preside o avanço das fronteiras agrícolas modernas no cerrado mato-grossense, na medida em que o poder econômico, associado à cadeia de grãos, tendo a commodity soja como carro chefe, passa a ser exercido por grupos mais capitalizados e poderosos, implicando em mudanças de ordem organizacional e tecnológica. Belik (1997) interpreta essas mudanças como consequência das transformações nas relações entre a esfera pública e privada associadas à constituição de redes de poder, instituindo-se novas relações que sustentam a nova ordem, havendo perda no processo de regulação e rompimento das alianças anteriores (BELIK, 1997).
Nesse contexto, o presente trabalho objetiva analisar as recentes ações e práticas das redes de poder econômico no Vale do Araguaia mato-grossense nas primeiras décadas do século XXI, com vistas à compreensão das novas transformações territoriais no âmbito do movimento de avanço da fronteira agrícola moderna na direção norte do país.
Do ponto de vista metodológico, considera-se que o recente processo de concentração do capital e o poder oligopólico dos grandes grupos empresariais do setor, associados a processos de transformações financeiras, significam novas formas de relação com o Estado e o território. Portanto, uma possibilidade para compreender a dinâmica territorial dos novos encadeamentos produtivos da cadeia de grãos, seria através da noção de redes de poder, uma vez que as estruturas dos referidos encadeamentos delimitam e selecionam territórios, procurando explicitar suas estratégias no âmbito da produção e da apropriação do território, considerando que os diferentes atores se movimentam
[…] dentro das características dadas não só pelas expectativas econômicas, mas, principalmente, pelo ambiente institucional territorial e pela cultura
local (PAULILLO, 2000: XIII).
Nessa perspectiva, objetiva-se apreender a nova organização do território, da sociedade e as relações que emergem e que se mantém com o avanço da fronteira.
Se por um lado é importante reconhecer como se expressam as mudanças nas alianças tradicionais entre empresas e Estado e o surgimento de novos arranjos institucionais, por outro lado é fundamental o conhecimento das ações localizadas e do novo papel do território, o que nos leva a tratar este último como unidade apropriada de análise. Nesse contexto, é importante a apreensão dos conflitos enquanto elementos dinamizadores da
totalidade social, buscando compreender e analisar a influência da nova estrutura econômica nas condições de vida das populações locais, no envolvimento dos pequenos produtores rurais e de que forma modificam as relações sociedade/natureza. Com vistas à percepção e compreensão dos fundamentos do desenvolvimento desigual, a análise fornece subsídios para a compreensão das formas de expansão das novas fronteiras agrícolas modernas.
O presente artigo parte de uma abordagem qualitativa e está dividido em duas seções, além desta introdução e das considerações finais. Na primeira, busca-se analisar o histórico da fronteira agrícola no Vale do Araguaia (MT) como um elemento gerador de rugosidades (SANTOS, 1996) que influenciam as dinâmicas atuais do avanço dessa fronteira. Esse processo, por sua vez, é discutido na segunda seção, que a partir de variáveis
primárias e secundárias esclarece o papel e as principais estratégias da agricultura empresarial no avanço da fronteira agrícola no Vale do Araguaia. A metodologia é composta por revisão bibliográfica, levantamento de dados secundários e primários, obtidos a partir de entrevistas realizadas durante
trabalho de campo.
Autoras
Livro
Terra e trabalho: territorialidades e desigualdades: volume II
Organizadores
Rosa Ester Rossini, Maria Rita Ivo de Melo Machado e Mateus de Almeida Prado Sampaio